O uso de alguns medicamentos pode diminuir capacidades do condutor fundamentais para a prática de uma condução em segurança. Uma diminuição da atenção, da concentração, dos reflexos, das capacidades visuais e de raciocínio ou da coordenação motora e um aumento do tempo de reação do condutor podem ser fatores determinantes de acidente. Esta realidade é agravada pelo facto de, com frequência, as pessoas não se apercebem que têm essas capacidades alteradas. Há medicamentos que podem ter um impacto mais negativo na condução do que o álcool, especialmente no início do tratamento ou quando se tomam vários simultaneamente.
Os acidentes de viação são em Portugal um importante problema de saúde pública, devido ao elevado número de feridos e mortos que causam anualmente. As causas desses acidentes dependem de múltiplos fatores, muitos dos quais são externos à prática dos profissionais de saúde, como é o caso do incumprimento do código da estrada pelos condutores, ou do estado dos veículos e das estradas.
Existem, no entanto, algumas vertentes dos acidentes rodoviários em que os profissionais de saúde podem ter um importante papel, contribuindo para a sua prevenção. Por exemplo, verificou-se em rastreios executados em Portugal e noutros países da União Europeia que mais de 50% das pessoas não têm a sua deficiência da acuidade visual adequadamente corrigida, o que para além de ocasionar uma visão insuficiente pode ser também responsável por fadiga ocular rápida, especialmente perigosa na condução noturna. Também em estudos feitos em vários países da UE constatou-se que a fadiga é uma causa de acidentes rodoviários com uma importância semelhante à relacionada com os níveis elevados de alcoolemia, provocando cerca de 20% dos acidentes. Várias situações podem contribuir para este problema, como é o caso da apneia do sono, em que as pessoas sofrem de cansaço diurno e, com frequência, não se apercebem de que têm o seu estado de vigilância alterado. Concorre também para as situações de fadiga na condução o uso de determinados medicamentos, que provocam sonolência, como os psicotrópicos e os anti-histamínicos, entre outros, tornando-se um possível fator de acidente. A Alemanha criou até um dia nacional, em 21 de Junho, para sensibilizar os condutores para a nocividade da fadiga. Os profissionais de saúde têm um papel importante na informação às pessoas sobre os efeitos adversos de alguns medicamentos na condução. Será uma contribuição muito valiosa para a diminuição dos acidentes rodoviários. Para além da informação, é também fundamental o acompanhamento, ao longo do tempo, de forma a dar suporte continuado às pessoas que conduzem e simultaneamente tomam medicamentos passíveis de afetar a condução. Com a ingestão de medicamentos, podem ocorrer alterações da atenção, da concentração, dos reflexos, da coordenação motora, assim como a existência de movimentos involuntários, um tempo de reação mais prolongado, tremores, perturbações de percepção, perda do sentimento de perigo ou excesso de confiança, irritação ou agressividade.
Todas estas alterações são fatores perturbadores da condução e causas possíveis de acidente. Os profissionais de saúde, em especial os médicos, mas também os farmacêuticos, no caso dos medicamentos não sujeitos a receita médica, têm um papel fulcral na prevenção deste problema, devendo alertar de forma clara as pessoas, que vão tomar medicamentos que interferem com a condução, sobre os seus possíveis inconvenientes e, se necessário, ponderar da compatibilidade entre essa toma e o conduzir. Pode-se, inclusive, aconselhar que, quando se iniciar a toma de um medicamento que possa alterar a capacidade de condução, se esperem alguns dias antes de voltar a conduzir, até o corpo e a mente se terem adaptado, começando, por exemplo, por tomar o medicamento ao fim-de-semana. Se as alterações provocadas pelo medicamento, por exemplo, sobre os reflexos ou outro tipo de capacidade, puderem influenciar a condução, será de ponderar a sua substituição. É também importante advertir para possíveis interações com a ingestão de álcool ou com a utilização de outros medicamentos.
Medicamentos Psicotrópicos
No caso destes medicamentos, nomeadamente tranquilizantes e os receitados para a insónia, é necessário ter especial cuidado porque podem continuar a atuar durante várias horas mesmo depois de estar acordado. Os efeitos negativos destes medicamentos podem aumentar se não dormir o número de horas suficiente (cerca de 7 a 8 horas por noite).
Pessoas Idosas
Os medicamentos atuam de forma diferente de pessoa para pessoa, seja em relação ao tempo de absorção, que pode ser de horas a alguns dias, ou aos efeitos que provocam. Sobretudo com o avançar da idade, deve ter-se um especial cuidado com os efeitos secundários dos medicamentos na segurança da condução.
Doenças Crónicas
No caso de algumas doenças crónicas, nomeadamente do sistema nervoso ou de foro mental, epilepsia, diabetes, hipertensão arterial ou perturbações do ritmo cardíaco, um tratamento adequado é fundamental para que a pessoa possa conduzir em segurança. Não ter tomado os medicamentos prescritos, por exemplo, por esquecimento, poderá implicar a pessoa abster-se de conduzir.
Trabalho por turnos
Em relação aos trabalhadores por turnos deve ter-se um especial cuidado com o uso de medicamentos particularmente, os psicotrópicos ou anti-histamínicos, pois a irregularidade dos períodos de sono/vigília pode tornar os efeitos destes medicamentos diferentes do habitual. Os trabalhadores por turnos se vão conduzir devem ter um especial cuidado com o uso dos medicamentos, particularmente com os psicotrópicos, devido à irregularidade dos períodos de sono que pode agravar os efeitos secundários destes medicamentos.
Vários medicamentos de venda livre (por exemplo para a tosse e constipações), frequentemente auto-medicados, podem contribuir para uma condução de risco.