O uso da Cannabis com fins medicinais, na Europa, não é consensual. Está aprovado em vários países, mas não está disponível para se usar na prática clínica. É o caso de Portugal, que não tem atualmente nenhum canabinoide sintético ou natural comercializado.
A Cannabis é dos fármacos psicotrópicos mais antigos
conhecidos. As espécies mais importantes são a Cannabis sativa, Cannabis
indica e Cannabis ruderalis. De entre os vários componentes da planta
destacam-se os canabinoides. Estes ativam os recetores canabinoides ao
nível do sistema nervoso.
O principal canabinoide com ação psicoativa é o tetrahidrocanabinol
(THC). O canabinol (CBN) e o canabidiol (CBD) quase não têm efeito
psicoativo.
O THC exerce a mesma ação da anandamida, um neurotransmissor produzido
no organismo. A ativação dos recetores canabinoides CB1 origina a
libertação da acetilcolina, dopamina, GABA, histamina, serotonina,
glutamato, aspartato e noradrenalina, assim como a diminuição da excitação.
A absorção da Cannabis por via inalatória é rápida, enquanto por via oral é lenta e variável de pessoa para pessoa.
O consumo crónico leva à destruição dos recetores nos neurónios, resultando défice de atenção, perda de memória e menor capacidade de aprendizagem.
Os principais efeitos (com interesse) como uso medicinal são como analgésico, para diminuição da pressão intraocular, para estimulação do apetite, pela atividade ansiolítica e antiemética. No entanto, são vários os efeitos secundários e o potencial de dependência limitam a sua utilização.
Vários ensaios têm sido desenvolvidos para avaliação da eficácia da Cannabis no alívio de vários sintomas em diferentes patologias.
A eficácia como antieméticos na quimioterapia de doentes oncológicos é grande, mas os efeitos secundários são maiores, o que limita o seu uso.
Foram testados canabinoides como estimulantes do apetite em doentes oncológicos e na SIDA, tendo-se verificado alguns resultados positivos.
Como analgésico, no tratamento da dor crónica não oncológica, dor neuropática, fibromialgia e artrite reumatóide, os resultados obtidos foram modestos, verificando-se algumas melhorias na qualidade do sono no tratamento da dor crónica.
No tratamento dos sintomas associados à esclerose múltipla, as melhorias não são gerais, mas verifica-se em alguns doentes melhorias da espasmicidade, nos espasmos musculares, na dor, na qualidade do sono, nos tremores.
A utilização dos canabinoides no tratamento da dor crónica (neuropática e oncológica) e nos espasmos apresenta resultados moderados. Para tratamento da emese devido a quimioterapia, para aumento de peso nos doentes com HIV e no síndrome de Gilles de la Tourette os resultados são fracos. O maior benefício verifica-se no tratamento da dor central neuropática e na dor associada à esclerose múltipla, não tendo praticamente efeito na dor aguda.
Fonte: Boletim do Cim, ROF 116 Jul/Set 2015 «Potencial Terapêutico dos Canabinoides»
Droga | Potencial | Uso prolongado |
LSD | Ansiedade existencial e depressão em doentes oncológicos; Perturbação obsessivo-compulsiva, enxaquecas e recaídas de alcoólicos. | Problemas cardíacos, náuseas e perda de memória. |
MDMA | Psicoterapia assistida; Perturbação de stresse pós-traumático. | Fobia, paranóia, défice cognitivo, problemas do fígado e perdas de memória. |
Ketamina | Analgésico na dor crónica e antidepressivo rápido. | Complicações respiratórias e insuficiência cardíaca. |